O ocidente acabou deixando o leste para a URSS
NOVA YORK — De 1942 a 1944, Winston Churchill, primeiro-ministro inglês, tentou persuadir seu aliado e financiador, Franklin Roosevelt, presidente dos EUA, a atacar a Europa, dominada pelos nazistas, pelo que chamava “the soft underbelly of Europe”, isto é, a parte macia (mais vulnerável) do estômago da Europa. Nada conseguiu. Seu Estado-Maior preparou planos e planos.
O general George D. Marshall, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas dos EUA, havia convencido Roosevelt de que a invasão deveria ser pela França, varrendo o oeste da Europa e deixando, o leste para a aliada dos EUA, a URSS.
Nada há de muito claro, por escrito, mas é plausível concluir que, Churchill, maquiavélico, já previa a hegemonia do comunismo stalinista no leste europeu e queria cortá-lo pela raiz. Stalin, quando os alemães pareciam vitoriosos na campanha contra a URSS, de junho de 1941 até o fim de 1942 chegou a implorar a Averell Harriman, emissário de Roosevelt, e ao lorde Beaverbrook, homem de Churchill, que ingleses e, americanos mandassem tropas para lutar ao lado das soviéticas.
Disseram ao ditador que logisticamente não era possível. Logo, o Dia D que se comemora, hoje garantiu que a URSS dominasse o Leste europeu até 1989.
Também libertou a parte mais rica da Europa, a ocidental, que, depois, pelas suas próprias iniciativas, como o “Mercado Comum”, se tornou o bloco de prosperidade que conhecemos, enquanto o leste, submetido ao stalinismo estatista, deu uma vida de miséria e privação a seus povos, que só agora parece estar terminando.
Devemos a Europa Ocidental ao feito militar de americanos, ingleses, e canadenses. Foram desembarca-1 dos 175 mil tropas na Normandia, maior operação aeroterrestre-naval da História.
Os dois principais generais alemães, Rommel e Von Rundstedt, discordavam sobre como melhor defender a Normandia. Rommel achava vital que os aliados não pudessem desembarcar. Rutidstedt preferia arrasá-los com uma contraofensiva Rommel, ferido, não estava na Normandia em 6 de junho de 1944. Hitler só fez atrapalhar. Pensava, como a maioria dos generais alemães, que a invasão ia ser por Calais, o ponto mais próximo da Inglaterra. Pior seu astrólogo garantiu que ia ser por Caiais.
Nas primeiras horas de desembarque na Normandia, Hitler ainda estava convencido de que aquilo era uma distração (ruse de guerre) para o ataque a Caiais, onde os alemães tinham 15 divisões de primeira classe. Hitler custou de mais — a permitir que essas divisões se deslocassem para o campo de batalha.
Se Rommel estivesse presente talvez tivesse persuadido o ditador a soltá-las. Em 24 horas, os aliados perderam cerca de 4.900 soldados, 2 mil mortos. Ninguém pode garantir o efeito que essas divisões teriam contra o desembarque.
Quase todas as melhores divisões alemãs estavam na frente leste contra a URSS. Ainda assim, foi uma grande vitória militar, que se deve principalmente ao gênio estratégico de Marshall e Eisenhower e à coragem dos seus oficiais e soldados. Um momento galante na história da luta da humanidade pela liberdade.
Paulo Francis.
Segunda-feira, 06 de Junho de 1994