História de Mato Grosso (Do período colonial à república)
OS EMBOABAS. A história de Mato Grosso deve contar-se dos princípios do século XVIII(1708-1719), na guerra dos emboabas, quando, depois da matança de paulistas, rio das Mortes, ocorreu a supremacia dos portugueses em terras das Minas Gerais, A vitoriosa desforra de Amador Bueno da Veiga não impediu o desvio da penetração paulista, e , daí, remontando os afluentes da margem direita, passou a varar canoas, por terra, nos trechos do chapadão, onde mal se separam águas do Paraguai e Paraná. Isso não quer dizer que tenham sido as primeiras penetrações: houvera algumas anteriores. Desde 1632, os bandeirantes conheciam, de passagem e de lutas, a zona onde os jesuítas haviam localizado as suas reduções de índios e que os espanhóis percorriam como terra sua. Antônio Pires de Campos, em 1672, quase criança, havia chegado com a bandeira paterna às depois famosas minas dos Martírios; brincara com palhetas de ouro, colhidas no sopé da escarpa, onde a erosão esculpira os instrumentos da Paixão de Cristo. Homem feito, retornou o caminho da serra misteriosa e navegou, de contracorrente, o Paraguai e o São Lourenço, embicando Cuiabá acima, até o atual porto de São Gonçalo velho, até se chocar com os índios coxiponés, que se retiraram, derrotados, deixando prisioneiros. Tudo, aliás, muito bom, para quem viera em busca de escravos, para obter recursos com que “remediasse a pobreza”. Como se dizia na época.
Á notícia de índios pouco ariscos e descuidados logo se espalha e Pascoal Moreira Cabral, que andava pelas margens do Cuiabá, ouve do próprio Pires Campos a narrativa dessas facilidades. E, no ano seguinte, se encontra na aldeia destruída dos coxiponés. Dá inicio à rancharia de uma base de operações, porque a esse tempo os índios, ressabiados, se esquivaram e se foram internando Coxipó acima, Lá adiante, topariam afinal o parapeito defensivo dos que aceitaram o combate e repeliram os bandeirantes. Foi nessa hora de derrota que o ouro faiscou nas barrancas do rio, ou no fundo das beteias de um curioso experimentador de cascalhos. Ao certo, não se sabe, pois a emoção do encontro deve ter suprimido a serenidade necessária a estabelecer o registro do fato. Barranca ou bateia, certo é que o nomadismo predador morreu ali, para dar nascimento ao garimpo.
Para “remediar a pobreza”, aqueles bravos iam utilizar, em oficio de tatu, as garras de jaguar. Porque, “conforme a diligência que fizeram em cavar com as mãos, que outros instrumentos de mineração não tinham”, cada qual se apoderou de cinquenta, de meia libra, de cem oitavas de ouro. E isso – acrescenta o cronista Barbosa de Sá – foi a gente que ficara na bagagem, pois” os que haviam acompanhado o capitão-mor, mais aproveitaram, e o mesmo capitão Pascoal Moreira, com libra e meia de ouro”. Sabendo-se que a oitava equivalia a 3,586g, como subdivisão da onça, e a libra a 16 onças, podem calcular-se as quantidades de ouro colhidas no primeiro dia e as que vão sendo referidas como “pintas”, descobertas nos ribeiros das cercanias do arraial estabelecido onde fora a aldeia arrasada dos coxiponés.
Os mineradores despacham Antônio Antunes Maciel a São Paulo, com a nova dos descobertos e amostras de ouro. Para socorro de boca e auxílio de guerra, vem ter ao arraial o paulista Fernando Dias Falção, que desbarata a indiada, já seu tanto animosa com a incompreensível inércia da gente do arraial, na defensiva por falta de munição. A história desse período é a do próprio ouro – que brotano chão, como nascido de semente.
Era preciso, pois, além da comunicação de praxe às autoridades, organizar a autoridade local, o que se fez, em 8-IV-1719, quando o povo elegeu, em voz alta, Moreira Cabral, como guarda-mor regente, “para poder guardar todos os ribeiros de ouro, socavar, examinar, fazer composições com os mineiros e botar bandeiras, tanto aurinas, …
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